domingo, 18 de junho de 2006

Correntes Anarquistas

Por Charles Odevan Xavier 09/05/2003 às 20:06


Síntese das principais tendências e atores do movimento anarquista


CORRENTES ANARQUISTAS
CHARLES ODEVAN XAVIER

Este texto pretende reunir e distinguir as várias correntes do pensamento anarquista. Ele é produto de um diálogo com o livro de Nicolas Walter “Sobre o anarquismo” – Rio de Janeiro: Achiamé, s/d.

ANARQUISMO FILOSÓFICO

Reconhece a beleza de uma sociedade sem governo, mas irrealizável por enquanto. Teve como expoente o escritor russo Leon Tolstói. Esse ramo do anarquismo tinha como protagonistas: escritores e intelectuais anteriores a 1840. Caracteriza-se como uma postura academicista, livresca e à margem de todo o movimento organizado.

ANARCO-INDIVIDUALISMO

Crê que a sociedade não é um organismo – rompendo assim com as teorias funcionalistas, mas uma coleção de individualidades autônomas que não tem nenhuma obrigação para com a sociedade, mas apenas umas para outras. Deste modo, o anarco-individualismo tende a supor que os indivíduos que formam a sociedade devem ser livres e iguais e que podem chegar a sê-lo apenas por esforço pessoal e não pela ação de instituições exteriores.

O anarco-individualismo tem como protagonistas: intelectuais, artistas, profissionais autônomos e pessoas que preferem ficar à margem. Teve como notáveis: William Godwin, Shelley, Wilde, Emerson, Thoreau.

ANARCO-EGOÍSMO

Recusa o Estado, a sociedade; tende ao niilismo – a idéia que nada tem importância. Costuma ser improdutivo. Tem como protagonistas: poetas, vagabundos, mendigos e todos aqueles que não querem compromisso. Expoente: Max Stirner.

MUTUALISMO

Propõe que, em lugar da sociedade recorrer ao Estado, ela deveria ser organizada por indivíduos que tomariam decisões voluntariamente, sobre uma base de igualdade e reciprocidade. Luta por uma sociedade composta de grupos cooperativos de indivíduos livres, que trocavam os produtos indispensáveis à vida na base do valor do trabalho e permitiam o crédito gratuito graças a um “Banco do Povo”. Tem como protagonistas: artesãos, pequenos comerciantes e pequenos proprietários, profissionais liberais e pessoas que cultivam a independência. O principal teórico foi Pierre-Joseph Proudhon.

O mutualismo é a corrente anarquista mais controvertida que existe. Tanto que o Coletivo Proletarizados Contraacorrente dedicou boa parte de sua revista n. 12 (Set /Dez de 2001) a estudar as implicações das premissas mutualistas para o movimento operário. O grupo denuncia que o modelo proudhoniano de cooperativas foi cooptado por organismos do capitalismo financeiro como Banco Mundial e BID. A distorção produz cooperativas atreladas aos governos financiados pelos organismos citados, sem nenhum tipo de autonomia e obedecendo a uma lógica mercantil que reproduz a sociabilidade mediada por mercadorias típica do Capital, da qual esses organismos chamam cinicamente pelo eufemismo de “economia solidária”. Ou seja, produz coisas como o Polo industrial de Horizontes (Ceará) em que os operários trabalham pelas ditas cooperativas sem nenhum vínculo empregatício, sem direitos trabalhistas e por longas jornadas de trabalho.

COLETIVISMO

A classe operária deve tomar o controle da economia por meio de uma revolução social, quando tiver destruído o aparelho de Estado e reorganizado a produção com base na propriedade coletiva, controlada por associações de trabalhadores. Deve coletivizar os instrumentos de trabalho, mas os produtos do trabalho serão distribuídos segundo a fórmula: “de cada um segundo as suas capacidades; a cada um segundo seu trabalho”.

O Coletivismo teve como protagonistas: operários e camponeses que têm uma consciência de classe. O principal defensor dessa tese foi Mikhail Bakunin.

A revolução espanhola, que coletivizou as lavouras e fábricas, é de nítida influência coletivista.

ANARCO-COMUNISMO

Deseja que além da coletivização dos meios de produção, os produtos do trabalho devem também ser postos em comum e distribuídos segundo a fórmula: de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades. Pretende colocar a economia inteira nas mãos da sociedade através da abolição do sistema de salários e preços.

Os protagonistas deste corrente são indivíduos que aceitam o conceito de luta de classes, mas que têm uma visão mais ampla. Teve como expoentes: Kropotkin, Malatesta, Faure, Goldman.

Uma das maneiras de se entender a distribuição no anarco-comunismo é através da criação de armazéns de víveres que seriam abastecidos e onde as pessoas pegariam o que precisassem sem ter de pagar.

ANARCO-SINDICALISMO
Concilia o difícil equilíbrio entre princípios libertários com as pressões da vida cotidiana para se obter melhorias salariais e melhores condições de trabalho. Tende a ser autoritário e reformista.

Tem como protagonistas indivíduos mais militantes e mais conscientes de um movimento operário poderoso. Expoentes: Fernand Pelloutier e Emile Pouget.

Mestrando em Literatura pela UFC
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